quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Preocupações - Gilberto Valle

Final de tarde em Recife e lá estava eu, voltando do dia de trabalho num ônibus que estava mais cheio do que o de costume. Observando o fluxo do vai e vem das pessoas me deparei com um rapaz estrangeiro que havia encontrado momentos antes na mesma parada onde tomei o coletivo e que pelo visto havia recebido uma informação errada. O garoto “arranhando” um português completamente “entendível”, perguntou ao cobrador onde se localizava a Rua das Pernambucanas, tradicional no Bairro das Graças.

A resposta veio de uma maneira grotesca e mal-educada: “Espera aí rapaz!”. No entanto, enquanto o jovem aguardava a informação do “cobrador gente boa”, o mesmo passava todas as pessoas que entraram depois do rapaz na sua frente. Detalhe: o rapaz estrangeiro carregava duas malas pesadíssimas.

Analisando esta atitude do cobrador do ônibus minha mente foi para o futuro. Daqui há quatro anos iremos sediar uma Copa do Mundo e, dois anos depois os Jogos Olímpicos. Como estará o povo brasileiro na época destes eventos que chamam a atenção de todo mundo? Penso que esta história de “o brasileiro é um povo hospitaleiro”, só cola quando os estrangeiros vêm gastar os seus dólares e euros por nossas terras (o caso do ônibus que presenciei ontem me fez acordar, sem generalizar). Quando se pode tirar vantagem de alguma coisa. Porém, não adianta trazer Copa do Mundo e Olimpíadas para o Brasil se não se investe no povo. Como os cobradores de ônibus e motoristas, atendentes, garçons, recepcionistas irão dialogar com milhares de pessoas de toda parte do mundo e das mais variadas partes do mundo?
Em termos empresariais, poderíamos afirmar que os donos das empresas deveriam investir nos funcionários, capacitando os mesmo ao menos com o inglês, que todos sabemos que é a língua universal. Mas, seria justo que os donos de empresa arcassem com estes gastos sozinhos? Foram eles que inventaram de trazer tais eventos para o país? Não! O governo teria obrigação de apoiar as empresas e trabalhadores para que os mesmos pudessem ao menos passar uma imagem melhor durante a Copa e as Olimpíadas. Será que vai ocorrer?

Até o presente momento, só antevejo lucros na parte de turismo, na roubalheira em benefício próprio e em mais nada. De fato, eventos deste porte podem ser muito melhor aproveitados pelos países em termos gerais, mas do jeito que as coisas vão nas terras tupiniquins, tenho sérias dúvidas.
Tirando o Rio de Janeiro, não vejo comentários de que mais nada anda sendo feito em prol de tais eventos, principalmente nas sedes menores. Aqui em Recife mesmo, acho totalmente inviável um projeto de metrôs (melhor meio de transporte público dos dias atuais em todo mundo). Cidade da Copa? Pelo amor de Deus! Isso passa dos limites do meu raciocínio e bom senso.

Como brasileiro de verdade, torço para que as coisas mudem. Espero que daqui pra lá, as autoridades acordem e possam ver que estamos muito aquém de receber tais eventos. No entanto, podemos melhorar com investimentos em educação, saúde pública, segurança, capacitação profissional e não apenas em trazê-los para o Brasil para movimentar o turismo (essas melhoras parecem repetitivas, mas desde que os responsáveis pelos eventos escolheram o Brasil, o governo tem obrigação de tentar melhora-las). Ressalto que o melhor do Brasil pode vir a ser o povo brasileiro, desde que seja um povo melhorado nos aspectos gerais. Até lá, os estrangeiros continuarão a ser mal tratados, ignorados e a receber respostas grotescas e mal-educadas. Talvez pela revolta e frustração do próprio cobrador em não ter tido oportunidade de aprender por conta de todas as falhas do sistema educacional do Brasil. Vai saber...


Publicado também no - http://www.revistaclickrec.com/cordel/preocupacoes/index.htm

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010