domingo, 6 de março de 2011

O carnaval de Garanhuns - Gilberto Valle


Em 2011, resolvi me aposentar do carnaval de Olinda depois de 14 anos no sobe e desce ladeira. A convite do meu amigo Dom Angelo, peguei estrada com rumo certo, Garanhuns. Durante os dias da folia de momo, acontece por lá o "Garanhuns Jazz Festival". De fato uma programação bastante diferenciada para pessoas que gostam de carnaval.
A noite iniciou com um grupo afro, certamente uma concessão dos organizadores e patrocinadores, porque não tinha nada de jazz no grupo formado por adolescentes e crianças. Muito longe disso, inclusive...
Por volta das 9 da noite sobe ao palco a Dom Angelo Jazz Combo, banda capitaneada pelo meu amigo e talentoso músico Angelo Mongiovi. O grupo traz no seu repertório clássicos do jazz mundial. Irei conceder uma atenção especial para este show. Ontem, o grande cantor Arthur Philipi acompanhou a Dom Angelo Jazz Combo, dando talvez uma pitada naquilo que falte. Voz! (Será?)
Remar contra a corrente, principalmente neste ramo musical, é para pessoas de extrema coragem e diferenciadas. Até porque não temos no nosso Estado a cultura necessária para valorizar grupos que trabalhem apenas com instrumentos. (Observação - "Se tiver uma alfaia, é sucesso absoluto")
Para completar também tivemos a presença do saxofonista americano, radicado em Maceió, Atiba Taylor, que demonstrou extrema tranquilidade e entrosamento com os membros da banda. Uma coisa me deixou muito feliz em relação ao show da Dom Angelo Jazz Combo. No momento em que o convidado Atiba Taylor, assumiu os vocais para entoar dois clássicos do grande Ray Charles - "Unchain my heart" e logo depois a matadora "Georgia, on my mind". Pasmem! Delírio num show de jazz em pleno interior do Estado de Pernambuco. Pessoas cantando e dançando junto com a banda. Certamente a apresentação foi o ponto alto da noite. Até porque todos sabemos que existem pessoas que dizem "fazer jazz e blues", mas na verdade não tocam e não fazem nada. O sentimento do jazz e a qualidade como instrumentistas e músicos sobra nos intregrantes da Dom Angelo Jazz Combo.
Logo após, entrou em cena o Quinteto Violado. Banda que persiste lutando em busca de mostrar algo de qualidade. Os senhores empolgam com clássicos conhecidos, mas não enxergo mais em frente para o grupo, não em termos musicais, obviamente, mas em novidades sonoras. Merecem todo respeito pelos anos de estrada, isto é fato!
Enfim, chegou o final da noite. A Uptown Band, antiga conhecida, sobe ao palco para encerrar a noite com o guitarrista do Sepultura Andreas Kisser, como convidado especial. O que posso dizer é que a altura reinou em todos os sentidos. Gina Solo de frente cantando blues com sua voz de extrema potência, acompanhada de outra vocalista, dos músicos da banda e do Produtor do Evento, Giovanni Papaléo na bateria. Eis que sobe ao palco Andreas Kisser portando uma belíssima Fender Buddy Guy, preta com bolinhas brancas. O resultado da prática é que não me agradou. Meu respeito por Andreas Kisser é imenso! Sou fã do Sepultura confesso, de ter todos os discos e acompanhar todos os shows até hoje. Mas levando em conta o que presenciei ontem afirmo: "Um grande guitarrista de rock n´roll". Blues com "overdrive" e "auás" excessivos não combina. (Onde fica a limpidez?) Terminei saindo antes da metade do show pela incômoda altura e pela bagunça excessiva que tomou conta do palco. Jazz e Blues foi o que menos se viu. Digamos foi um show de rock n´roll de um excelente guitarrista de rock n´roll, sem os membros do Sepultura.

No entanto, vale se ressaltar o esforço dos organizadores em agradar. Estrutura boa, organizada dentro do possível para um evento gratuito e na interação com o público. Vale a pena conferir. Além do fato de ter cadeiras suficientes para que todos assistissem as apresentações com o mínimo de conforto.

Ainda assim, mesmo sem muitas novidades. Vida longa ao Festival de Jazz de Garanhuns.