sábado, 20 de fevereiro de 2010

No mote do Motta - Gilberto Valle

Pesquisando coisas na internet revi com muita atenção um vídeo de algum Telejornal Global, onde Nelson Motta, reconhecido crítico musical brasileiro, comentava sobre os caminhos da música brasileira em 2009. Respeito muito as opiniões dele, quando são ligadas a história da MPB, mas discordo em demasia, quando se propõem a falar sobre novidades musicais no mercado. Até porque, tenho sérias desconfianças (para não dizer certeza), que só rolam certos tipos de elogios à todos aqueles artistas com “potencial” para fazer trilha de alguma “trama da Toda Poderosa”.

Já tinha ouvido vários dos trabalhos citados na reportagem no decorrer do ano e, diferentemente de Nelson Motta, tentarei explanar minhas opiniões, com o máximo de clareza e com o sentimento que aquilo provocou ao ouvir.

Maria GADÚ:

Discordo quase na totalidade da opinião do Motta na matéria. Esperar uma cantora afinada é o mínimo que pessoas que tem algum gosto musical podem desejar. Não gosto deste “oba-oba” que ocorre aqui no Brasil. Sempre que aparece algum (a) artista novo, que emplaca uma musiquinha na novelinha e depois nas rádios “jabazísticas” do nosso país, já se torna o salvador da pátria.

Não tenho nada contra a Maria Gadú, é bom esclarecer isso. Mas, para se tornar uma artista de verdade, não a do nível ilusório que nos querem impor, a garota vai ter que “shimbalaiar” muito mais. E outra, aparecer num meio que de uns tempos pra cá, às cantoras que fazem sucesso tem voz masculinizada, não é muito complicado. Ainda não passa de uma boa promessa.


Adriana Calcanhoto:

A gaúcha está provando que tem talento. Ao menos nos discos que a mesma montou para crianças e que estavam fora do mercado há tempos. Desde os idos tempos da “Arca de Noé 1 e 2”. Achei apenas infeliz o comentário do autor da reportagem ao dizer – “...é disco para criança inteligente...”. Será que não seríamos nós mesmos os culpados de colocar as crianças para ouvir coisas como: “Xuxa para baixinhos – volume 234”? Isto sim, é subestimar uma criança. É vetar, indiretamente, os sonhos e belíssimas viagens que a música pode vir a trazê-las. Parabéns para Adriana Calcanhoto pelo seu Partimpim – Volume 2.


Erasmo Carlos:

Este disco de Erasmo Carlos era um dos que ainda não tinha ouvido da lista dos citados. Baixei o mesmo e ouvi repetidas vezes esta semana, do meu jeito peculiar. Headphones nos ouvidos pra tentar perceber o máximo de detalhes e deixando a música fluir. É um trabalho muito bem gravado e límpido na sua totalidade, no entanto, achei muita potência sonora, para letras que se perpetuam no estilo “Jovem Guarda”. Isto tornou o disco meio confuso. Não combinou essa mistura de rock, blues e jovem guarda. Talvez ele tenha tentado buscar uma coisa que não existe mais dentro dele.

Insisto: “o Tremendão” é extremamente mais feliz quando é apenas compositor para o “amigo de fé e irmão camarada”.


Wilson Simonal:

Eu penso que independente de épocas, os artistas devem ser reconhecidos por sua música e não por quaisquer outras coisas. Política e religião, por exemplo. Um pena, que só agora, Simonal venha a ser tão valorizado novamente. Este “re-sucesso” repentino é cruel.

Para aqueles que conheceram na época, para aqueles que não conhecem, para aqueles que aprenderam ouvindo com os pais (o meu caso), será uma grata alegria poder ouvir todo o balanço e a malícia na discografia relançada. Pasmem! A discografia de Wilson Simonal estava extinta no mercado.


Diogo Nogueira:

o garoto continua colocando as cartas em cima da mesa. Não se trata de uma “re-invenção do samba”, como falou o jornalista, mas sim, de uma tentativa de mesclar o samba tradicional com samba de partido alto. O filho do saudoso João arriscou logo de cara, lançando um CD/DVD como primeiro trabalho em 2007. Agora lança o “To fazendo a minha parte”, seu primeiro álbum em estúdio, mostrando que é competente como intérprete e compositor. Continue fazendo Diogo, você está no caminho certo. Afinal, já diria Martinho – “Quem não gosta de samba, bom sujeito não é...”.

Vale ressaltar, que pelo quarto ano consecutivo, a Portela vai desfilar na Sapucaí com um samba de Diogo Nogueira.


Maria Bethânia:

deixei para citá-la por último. Razões? As mais óbvias possíveis. Algumas pessoas iluminadas chegam a certos patamares que nem merecem entrar em listas. Como falar da maior cantora deste país há no mínimo 25 anos numa lista? Bethânia é mais do que isso, é “a Diva” da voz do Brasil. A maior! Soberana e absoluta.

Exagero? Escutem “Tua” e “Encanteria”. Ambos de 2009 e vocês entenderão.

Para finalizar, e talvez desvendar este mistério que envolve tantas coisas, gostaria de perguntar duas coisas a quem fez a matéria:

- Onde está o disco surpreendente e excelente da cantora Céu, intitulado Vagarosa, que sem sombra de dúvidas, é um dos melhores lançamentos do ano?

- Onde está o disco de Otto – Hoje acordei de sonhos intranqüilos?

Fácil responder.

Alguém já imaginou um “fodia de noite e de dia” numa novela? Imagina ficar na “bubuia”.

Quando se ouvir música pelo que a mesma realmente representa e não apenas como negócio, talvez as coisas mudem neste país. Enquanto isso não acontece, teremos que aguentar toda essa manipulação pútrefa.

A verdade é ácida e a crítica é crua, assim como a música.


Publicado também em www.clickrec.com

Sorriso magro e encarquilhado - Gilberto Valle


É grande mestre...

De tantos desenganos persistimos com estes cantos foscos.

Com sorrisos magros que tendem a se encarquilhar, por falta da identidade de ser o que realmente é...

Sensações de madrugadas perdidas, e do que é o “meio”...

Ser um comum...

Que causa suores e enxerga a falta de identidade nas pessoas.

Que causa a curvatura onde nem nelas, se observa pensamentos...

Os martírios não são mais compartilhados...

Entre irmãos? Que nada!

Delírios, que além de loucos e vivenciados, são esquecidos nas esquinas e mesas frias e fúteis.

De que adianta querer voar grande mestre? Se não temos mais ideologia e vontade de lutar por um ideal?

Falsamente sim!

No meio do “meio”.

Daqueles que se olham e se matam pelas costas.

Dos que se enganam com sorrisos e olhares.

E que se alimentam...

De pessoas em pedaços...De gente forte e sincera.

Com corações amargurados e quiçá atrapalhados, vivemos...

Testa franzida, suada e pensativa...

Abrindo os olhos numa madrugada mágica, de frente pro mar.

Homenagem a Lula Côrtes. Baseado na Música – Desengano, do Disco – “O gosto novo da vida”, datado de 1981 e um dos melhores discos de música pernambucana que já ouvi.

Publicado em www.clickrec.com - 20/02/2010

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

The Fall - a consolidação de um estilo

Como se popularizar um estilo em uma década? Norah Jones sabe. Em apenas uma década ela colocou entre as músicas mais populares o Jazz. Não que isto não tivesse ocorrido. A canadense Daiana Krall, já tinha tentado colocar o estilo entre guettos mais populares da América do Norte, por intermédio de shows. Norah foi além. Colocou o jazz em todas as rádios do mundo, de uma forma sutil e sem alarde.
Em novembro passado foi lançado mundialmente o disco The Fall. Mais uma vez, percebemos um resultado de surpreender, afinal, quem flertou com country music e pop demonstrando exímia competência, não poderia deixar barato. Este disco é mais uma vez inovador no estilo próprio. Menos piano e mais guitarra, algo meio que inspirado numa conotação “Kerouaquiana” de Beatnik. “A garota se achou de vez”.

Percebo ainda uma forte inspiração no trabalho de Tom Waits.

Ressalto que o disco é quase todo composto com guitarras e não mais no piano (saindo o piano acústico e entrando o Fender Rhodes), as músicas saltam aos nossos ouvidos com coerência e harmonias fantásticas. Sem sombra de dúvidas é direcionado para um lado mais indie. Melhor dizendo, é uma adequação jazzística a música contemporânea. E isto nos traz à tona novos timbres de muitíssimo bom gosto.
Mais uma vez em 7 anos, Norah Jones se recicla musicalmente. Vai buscando uma sonoridade mais palpável e sem toda a tristeza do álbum inicial, por exemplo. (O não menos fantástico “Come away with me” de 2002). Isto não quer dizer que The Fall, não seja um álbum de coração partido. (Escutem “You´ve ruined me, oitava música do album. É de uma triste inocência fabulosa).
Passando para um lado mais técnico da história, não podemos esquecer da troca de produtor. Este último trabalho foi produzido por Jacquire King, que tem no currículo os dois últimos álbuns do Kings of Leon, é produtor de Tom Waits e ainda por cima de álbuns como o “Blues Singer” (2003) da lenda viva Buddy Guy.

Recém balzaquiana, separada do namorado que a acompanhava desde o início da carreira (no contrabaixo) e de cabelos curtos, Norah Jones mostra mais uma vez que é uma grande artista. E o melhor de tudo, uma artista sem estilo definido, mas sempre prezando por um bom gosto profundo.

Sem dúvida este disco foi um belíssimo presente sonoro, de uma alma agora inquieta, mas que nos transmite um sentimento altamente prazeroso ao ouvir. E, justamente por recriar um estilo sem mesmices, apenas com flertes, afirmo: “A garota vai longe!”.

Publicado em 09/02/2010 no www.clickrec.com.br