segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Dá um tempo pro Bigode - Gilberto Valle


"Saia do meu caminho
Eu prefiro andar sozinho
Deixem que eu decida a minha vida
Não preciso que me digam de que lado nasce o Sol
Porque bate lá meu coração"


É assim que começo o texto. Citando um trecho do genial "Comentário a Respeito de John". Tenho certeza de que é assim que o mestre Belchior pensa. Na sua liberdade total e não nessa vida cansativa e política da grande maioria dos artistas.
O que me deixa perplexo nisso tudo, é que se os Hotéis aos quais ele deve e as empresas de estacionamento, não tivessem colocado na mídia que se tratava de Antônio Carlos Gomes Belchior Fontenelle Fernandes, nome real do menestrel, nada disso estaria ocorrendo. Culpo a mídia sim! Por que? Será que se fosse Ivete Sangalo, Ximbinha e Joelma, e tantos outros que nos cobrem de porcaria os ouvidos, isso iria estourar? Tenho sérias dúvidas.
Na reportagem de ontem do Global Fantástico, achei a postura de Belchior correta ao fazer a repórter da Globo, esperar um monte. Prova de que ele quer ficar só, compor só, desfrutar momentos de solidão, vivendo sua música...Mas, como sempre o sensacionalismo impera!
Palavras dele - "Quando minha assessoria me comunicou, assisti as imagens pela internet e não me reconheci. Afinal, nunca fui uma celebridade." Coisa desnecessária e inoportuna para vida do genial Belchior.
Não concordo com as dívidas deixadas, com as "possíveis" pensões atrasadas, deixo claro. Mas bastaria vender os dois carros, ou apenas a Mercedez que está parada e tudo estará resolvido. Ou ainda, bastam dois shows e pronto, ele some de novo para a mídia.Acabou o escarcéu feito pela imprensa. Os que enxergam os talentos e a música de verdade, sincera e honesta, sabem que é assim mesmo.
E, aqui para nós...que coisa ridícula se colocar Daniela Mercury e o babaca do Alceu Valença para pedir para ele voltar. Politicagem absurda e desnecessária, beirando o exagero.
Belchior, na minha visão, é um visionário...ele escrevia há 30 anos atrás coisas que até hoje em dia ocorrem, de acordo com o sentido louco que se tornou viver. E, para aquelas pessoas, que pensam que ele iria fugir, ele já havia respondido há anos atrás, basta ouvir, o que é bastante difícil:


O que é que pode fazer o homem comum
neste presente instante senão sangrar?
Tentar inaugurar
a vida comovida,
inteiramente livre e triunfante?

O que é que eu posso fazer
com a minha juventude
quando a máxima saúde hoje
é pretender usar a voz?
O que é que eu posso fazer
um simples cantador das coisas do porão?
Deus fez os cães da rua pra morder vocês
que sob a luz da lua,
os tratam como gente - é claro! - a pontapés.)

Era uma vez um homem e seu tempo...
(Botas de sangue nas roupas de Lorca).
Olho de frente a cara do presente e sei
que vou ouvir a mesma história porca.
Não há motivo para festa: ora esta!
Eu não sei rir à toa!

Fique você com a mente positiva que eu
quero a voz ativa (ela é que é uma boa!)
pois sou uma pessoa.
Esta é minha canoa: eu nela embarco.
Eu sou pessoa!
(A palavra "pessoa" hoje não soa bem -
pouco me importa!)

Não! Você não me impediu de ser feliz!
Nunca jamais bateu a porta em meu nariz!
Ninguém é gente!
Nordeste é uma ficção! Nordeste nunca houve!

Não! Eu não sou do lugar dos esquecidos!
Não sou da nação dos condenados!
Não sou do sertão dos ofendidos!
Você sabe bem:
Conheço o meu lugar!


Segue em frente mestre! Com seus sonhos de sangue e América do Sul. Afinal...

Palavra e som são meus caminhos pra ser livre,
e eu sigo, sim.
Faço o destino com o suor de minha mão.
Bebi, conversei com os amigos ao redor de minha mesa
e não deixei meu cigarro se apagar pela tristeza.
- Sempre é dia de ironia no meu coração.

Tenho falado à minha garota:
- Meu bem, é difícil saber o que acontecerá.
Mas eu agradeço ao tempo.
o inimigo eu já conheço.
Sei seu nome, sei seu rosto, residência e endereço.
A voz resiste. A fala insiste: você me ouvirá.
A voz resiste. A fala insiste: quem viver verá.

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Já passou de metamorfose Raulzito - Gilberto Valle


Neste mês de agosto, se completam 20 anos da morte do grande Raul Seixas. A gravadora MZA Music estaria lançando agora no decorrer do mês o DVD - 20 anos sem Raul, em homenagem a este pensante revolucionário que nos deixou tanta saudade. Trinta mil capas do referido trabalho já estavam prontas, mas daí surgiu o comunicado do Ministério da Justiça de que o trabalho, "não era recomendado para menores de 10 anos". E que a EXIGÊNCIA teria que constar na capa do DVD e, ainda mais no MENU do mesmo.
As trinta mil cópias foram pro lixo! Pasmem! Um prejuízo imenso para quem ainda tenta fazer algo de qualidade neste país, ou, como no caso em questão, mostrar talvez a essa juventude algo que preste. A gravadora MZA do produtor Marco Mazzola, afirma que o trabalho chegará as lojas antes do dia 21 deste mês, para não acabar com a homenagem.
A alegação do "grande" Ministério da Justiça, é que no material contém - cenas de consumo de drogas ilícitas (cigarro e álcool)’ e ‘linguagem obscena’. Na parte que Raul explica a composição do Rock das Aranhas. Aquela brincadeira de criança que é datada de 1981 que diz - “Tomada com tomada não dá contato/ não dá curto-circuito”.
Penso que Raulzito estaria rindo de toda esta merda se estivesse vivo. Tarjar de imoral e danoso o que ele escreveu nesta música é uma piada de mal gosto e antiquada para o "Século XXI".

Enquanto isso, em todas as esquinas, rádios, lojas, carrinhos de CDs e shows Brasil afora...

"Vaaaai, dá tapinha na bundinha, vaaaaaai
Que eu sou sua cachorrinha, vaaaaai
Fico muito assanhada
Vamos dá uma lapadinha?
Só se for na rachadinha..."


ou...

Vamos simbora
Prum bar
Beber, cair e levantar

"Grande Ministério da Justiça".

Esse país enlouqueceu, isso é fato.

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Às vezes surdez - Gilberto Valle


Na sexta passada, viajando a trabalho para a cidade de Gravatá, presenciei mais um absurdo sonoro brasileiro. Lá venho eu de novo, sentar a pua em cima do que somos forçados a ouvir.
Estava com Thiago, traçando uma maravilha de coxinha de charque com catupiry no Rei da Coxinha, quando num comercial televisivo me aparece um bando de rapazes, dançando para uma multidão e cantando coisas terrivelmente ruins. Mas o povão lá, delirando loucamente. O que mais impressiona nisso tudo, é que no espaço de 6 meses (pasmem!), já é a segunda bandinha nesse estilo "Boys Band" (Só que aqui no Brasil deveria ser chamado de Agro Boys Band), que surge, cantando um monte de merdas, se intitulando "O fenômeno universitário". E todas com o selo da Som Livre. Pelo amor de Deus! É de fazer vergonha a qualquer universidade pé de calçada. Nomes? "Love Boys" e a "Tchê Garotos". Valha-me Deus!
O que mais me deixa impressionado e revoltado, é o modo fácil que essas coisas tem de cair na mídia e sair ínumeras vezes na programação comercial da "Toda Poderosa" Rede Globo de Televisão. É o famoso JABÁ! Só pode!
Tudo isto me deixa muito preocupado com o futuro da música brasileira. Cada vez mais as bandas vão se extiguindo, as mentes pensantes vão cansando e a vontade de vencer com a música vai terminando, de tanto dar murro em ponta de faca. Vivemos no país das merdas sonoras musicais! Tudo que é ruim, torna-se bom! E aquilo que é de qualidade melhor, é esquecido nos cantos. Além dos descuidos na hora de informações televisivas. A "Toda Poderosa" passa dos limites e justamente por isso,eu vou contar outro caso. Estávamos na casa de Fernando, na tradicional quarta do futebol e no intervalo do jogo, me espanto! Começa a tocar Little Joy e a Globo fala abertamente - "Little Joy, curta o nascimento de um fenômeno!" Som Livre! Quando falo em descuidos, é justamente porque a referida banda, é apenas um projeto (o que é bastante diferente de banda), e com data para terminar. Inclusive o mesmo já foi encerrado. E aí Globo? Já soltaram a graninha pro projeto ser mantido, para continuar com músicas em Malhação? Porque penso que é assim que rola!
Noto a perda de amor pelas coisas, a descrença nos sonhos e a falta de identidade dos artistas. Jovens talentosíssimos, tendo que se sujeitar (é essa a expressão), a tocar um monte de merdas (adoradas pela sociedade), para ganhar a vida. Enquanto a grande maioria é suprimida pelo submundo das esquinas, cada vez mais reclusos e escassos. É por estas e por outras que há mais de 10 anos não vemos nada de estrondoso no mundo de música de qualidade brasileira, principalmente em termos de rock n´roll. Los Hermanos parece ter encerrado a safra de grandes bandas brasileiras. Simplesmente NADA de inovador, diferente e estonteante surgiu depois deles. Pensando em termos gerais é pior ainda. Só nascem cantoras como cópias de outras. É um bando de covers de Ana Carolina e Zélia Duncan (uma injustiçada, porque canta e faz músicas de muito melhor nível que a primeira, mas o sucesso está com "aquele grande cantor", Ana Carolina), que não está no gibi. Tudo com aquela voz altamente grave e sem sentimento nenhum. Além da pobreza de letras e versões.
Nesse ponto, posso citar dois exemplos que se distinguem entre os meios. Uma se chama Maria Rita, que é uma excelente intérprete! Basta você ter o discernimento de escutá-la sem comparar com a mãe dela. O trabalho da mesma é de qualidade. Ela canta muito, em comparação a qualquer outra.
E o outro exemplo é Vanessa da Matta, que surgiu devagarinho com sua mistura "romântico-alterna", e tem sido uma excelente fórmula, junto com a voz extremamente doce. É música honesta!
Assistir TV já era um suplício, principalmente se tratando de TV aberta, mas de uns tempos para cá, está se tornando agressão. Logo para mim, que amo a música de qualidade e tenho que aguentar além das novelas, as merdas sonoras jogadas na nossa face, sem dó nem piedade.
Depois disso tudo, o que me restou foi comer a coxinha, a única coisa que se salvou. Tô achando que ser surdo às vezes, não é uma má-idéia.






Dedicado a Fernando Lucchesi e, principalmente a Lester Bangs, o maior crítico de rock n´roll da história.