terça-feira, 6 de novembro de 2007

O rouxinol do sertão - Gilberto Valle


Eugênio Avelino, o menestrel Xangai. De cantor de seresta pras namoradinhas dos irmãos, lá no Vale do Jequitinhonha, interior do interior da Bahia, se tornou um mestre. Desde pequeno corria no sangue, quando o pai perguntava, o que tu queres ser menino? E ele respondia: "quero ser vaqueiro!"
E, há diferença sim! Vaqueiro é aquele que derruba o boi no mato, com seu gibão de couro, com seu laço, por necessidade. "Vaquejador", é aquele que derruba por derrubar, naquelas festas de "interior", pra maltratar o animal.
Do fundo deste homem brota a voz mais bonita de todos os interiores. Um verdadeiro pássaro! Rouxinol ele é chamado por lá. Xangai, é menestrel, porque além de suas qualidades como "cantador", é simples como pessoa. Ele canta o que o povo quer ouvir, sempre! Defendendo a bandeira da nossa terra nordestina tão massacrada, pelo monopólio sulista. Xangai orgulha-se de ser um "tabaréu", "um matuto", "um capiau". O povo tão sofrido que não tem vergonha da voz. Porque como ele mesmo diz: "quem não canta é véio ou véia, ou feio e feia". Cantar, aquela coisa que vem de dentro. Da alma. Xangai canta os peixes, as aves, a fauna e a flora, e isso é belo! Canta os causos de sertão, mantendo sempre a vêia crítica pra todos aqueles que cedem ao meio pra poder se mostrar. Como ele mesmo fala, "posso ter todos os defeitos, menos o defeito do "desreconhecimento"." Cantar os mestres e menestreis, os causos populares, as coisas de Elomar, de Vital Farias, de Maciel Melo, de Juraíldes da Cruz, de Renato Teixeira e de tantos outros. E o mais importante, resumido na gravação dos 3 Cantorias (o verdadeiro Grande Encontro), que foi citado nas palavras de um cantador chamado François Silvestre:

"Só é cantador quem traz no peito o cheiro e a cor de sua terra, a marca de sangue de seus mortos e a certeza de luta de seus vivos..."

O caminho dele é esse. Sem vergonha de cantar numa praça, num teatro e até mesmo no meio da rua. O verdadeiro artista! Aquele que toca onde o povo está e principalmente, aquilo que o mesmo quer ouvir.


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