sábado, 14 de junho de 2008

A estrada de névoa - Gilberto Valle


A névoa pairava sobre a estrada...

Apenas se se ouvia os passos, um atrás do outro, no contato com a areia batida. Passos estes que eram infindos, sem a certeza de onde se pode dar. A tiracolo, um violão folk, uma gaita no bolso, uma carteira de cigarro e uma pequena garrafa de scotch.
A enebriante estrada, aquela que leva os pensamentos até os mais profundos sentimentos. A ida em busca de um caminho de vida por lamento...Sim, por lamento. Noite fria se aproxima e o "bluseiro", vai dormir na estrada, olhando o céu e as estrelas.
Ele junta alguns galhos, acende uma fogueira como fariam os antigos, puxa a viola da capa e lamenta para o céu, pras estrelas, pra vida. Lembrava de Bo Didley, nos primórdios. Quando os negros se juntavam ao redor da fogueira, pra lamentar os maus tratos, o trabalho injusto, o preconceito...Do sofrimento de uma raça nasceu o Blues.
O fogo estalava e marcava o compasso em sua mente, compassados como os pés de Hooker, sempre perfeitos, como se nenhum instrumento pudesse acompanhá-lo, ou fosse capaz de fazê-lo tão bem. A pedra inicial.
A mente sonhava, tomava rumos imensos. O lamento saía firme de sua viola...ele buscava o caminho dos antigos mestres nos dias atuais. Seria este o rumo a seguir? Ele tentaria! O Blues e a estrada, combinam. Ele tomava mais um trago do scotch e acendia o velho companheiro de solidão, o fumo. Imaginava um solo de Clapton, acompanhado da sutileza límpida de BB...Os dedos tocavam a música do coração, e sem companhia de corpo presente, ele ouvia no vento o som de Sonny Boy, como se a brisa o acompanhasse tal qual a gaita do mágico.
As pernas pesavam da caminhada...necessitavam descanso. Ele cobriu os olhos com seu chapéu, apoiou a cabeça na viola e pensou na vida, na busca de um caminho inseguro. Mas ele iria. Adormeceu...
Assim que os primeiros raios começaram a aparecer ao céu, ele pegou a viola, bateu o pó da calça, e seguiu a caminhar até o próximo destino indeciso. Mas, esse destino, por mais que fosse distante, na sua mente já era o Mississipi, ou até mesmo New Orleans. Afinal:

"o que importa é você tocar como se sempre fosse a primeira vez" (BB King)

The thrill is gone, baby!

Um comentário:

Cezar, B. disse...

Perfeito, Conselheiro.

Eu sempre soube,
que havia um tanto de bluesman,
dentro de você.

Por agora,
tudo está consumado ...